Especialistas alertam que o transporte alternativo pode agravar a crise do sistema coletivo em Anápolis, aumentando a fragmentação, reduzindo a eficiência e comprometendo a viabilidade econômica do serviço público tradicional.
A Câmara Municipal de Anápolis discutiu, na noite desta quinta-feira (28), os desafios do transporte coletivo operado pela Urban e a possibilidade de implementar o transporte alternativo no sistema. A audiência pública, proposta pelo vereador Luzimar Silva, trouxe à tona críticas à qualidade do serviço atual e gerou debates sobre os impactos de um modelo complementar.
Enquanto o transporte coletivo convencional enfrenta dificuldades financeiras e operacionais, vereadores aproveitaram o debate para retomar um projeto de 2019 que propõe a regulamentação do transporte alternativo em Anápolis. A proposta, em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Redação (CCJR), inclui micro-ônibus e vans no sistema e reserva 25% das linhas para pequenas empresas e cooperativas.
Vereador Luzimar Silva (PP), propositor do transporte alternativo (Foto: Victor Santos)
Segundo o texto, motoristas informais poderiam se formalizar para participar de licitações, e o transporte executivo, com veículos de luxo e tarifas diferenciadas, também seria autorizado. A concessão para essas operações teria duração de 20 anos, iniciando após o fim do contrato da Urban em 2030.
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Críticas ao impacto do transporte alternativo
Embora defendido por alguns parlamentares, o transporte alternativo enfrentou forte oposição de especialistas. O presidente da Agência Reguladora Municipal (ARM), Robson Torres alertou que o modelo pode agravar os problemas do transporte coletivo, criando mais desafios do que soluções.
"Esses sistemas alternativos, em outros municípios, geraram irregularidades e prejuízos ao equilíbrio financeiro do transporte público", destacou o presidente, questionando se as linhas deficitárias seriam atendidas e como a regulação seria garantida. Ele ainda reforçou que o modelo pode comprometer a eficiência e a justiça social, agravando a precariedade do sistema em vez de solucioná-la.
A ausência de subsídios estaduais para Anápolis, em contraste com os mais de R$ 150 milhões anuais recebidos por Goiânia, também foi apontada como um obstáculo. "A implementação de um sistema alternativo sem apoio financeiro apenas enfraquecerá ainda mais o transporte coletivo convencional", afirmou o presidente da ARM.
Foto: Michael Melo/Metrópoles
Exemplo no Entorno do Distrito Federal (DF)
A implementação de sistemas de transporte alternativo no Brasil, incluindo regiões próximas ao Distrito Federal, tem enfrentado desafios que comprometem sua eficiência e a qualidade do serviço prestado à população. Essas dificuldades são evidenciadas por problemas operacionais, falta de integração com outros modais e questões regulatórias.
No entorno do Distrito Federal, por exemplo, o transporte público enfrenta desafios significativos. Em dezembro de 2022, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu um aumento de até 25,15% no preço das passagens de ônibus em cidades da região, destacando a complexidade da gestão tarifária e a necessidade de coordenação entre diferentes esferas governamentais.
Além disso, a qualidade do transporte urbano no Brasil é uma preocupação constante. Uma pesquisa realizada pela FGV Transportes, divulgada em outubro de 2022, revelou que 63,2% dos brasileiros consideram o transporte urbano ruim ou péssimo, indicando uma insatisfação generalizada com os serviços oferecidos.
Esses exemplos demonstram que, sem um planejamento adequado e políticas públicas eficazes, a implementação de sistemas de transporte alternativo pode não solucionar os problemas existentes e, em alguns casos, até agravá-los. A falta de integração entre os diferentes modais e a ausência de uma gestão eficiente são obstáculos que precisam ser superados para melhorar a mobilidade urbana no país.
- Por: Redação